“Le mépris”, de Jean-Luc Godard

Le Mépris – um incontornável – que só agora vi. Razões? Enumeraria tantas mas direi apenas aquela pela qual me decidi vê-lo: a casa. “A Casa” – a casa em Capri – obra arquitectónica perdida no Mediterrâneo, acessível apenas de barco e subindo a escadaria de 99 degraus – essa mesma onde Bardot – ou melhor, Camille – lhe diz com todo o sentimento de desprezo que nada mais Paul lhe pode dar que isto mude.

Mas, voltemos ao início!

Achas os meus pés bonitos? E os tornozelos, ama-los? Amas os meus joelhos também? E as minhas ancas? O meu traseiro, vê-lo no espelho? Consideras bonitas as minhas nádegas? E os meus seios, ama-los? E os meus ombros? … E a minha cara? Tudo? Boca, olhos, as minhas orelhas…?》, pergunta infinitamente Camille. 《Sim!》, responderá sempre Paul.

Portanto, amas-me totalmente》, conclui ela.

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Faz-se facilmente um filme com tão poucas questões, pensar-se-ia. Pois aparentemente esse filme nessa bella Italia coloca ainda mais questões, de produção. Ou melhor: esse produtor americano intriga-a. O seu carro descapotável desvia-a e todo o seu charme e background a fascinam.

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Tinha medo de perder Paul ontem; terá medo de perder o contacto com Prokosch hoje e de perder a oportunidade de ir a Capri com este último amanhã. Ela sabe que é uma princesa desejada. O jogo do desprezo pode começar então. O filme também! 《ACÇÃO!》

《Je t’aime plus.》diz-lhe ela, separados pelo branco do candeeiro que faz a decoração modesta da casa de ambos.

 

De casa para “a casa”: nem mais amor,  nem mais respeito, nem mais roupa ou contradição. Ela é ela, e sua vontade o pontão dessa bela casa na ravina, rodeada de verde e azul por todo o lado.

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Partirá ainda assim do paraíso e viajará no sonho com o produtor – 《Aproveitei que ele tinha que se deslocar a Roma e fui com ele》. Não se verão mais. O destino é uma viagem demasiado cruel para ser tomada em mãos por qualquer um.

 

 

《Je t’aime totalement, tendrement, tragiquement.》Paul

《Je t’embrasse. Adieu. Camille.》

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Sobre Cinema Francês Visto em Português

Já muito se falou e continua e continuará a falar de cinema francês e, nesse sentido, pouco posso acrescentar teoricamente ao que já foi dito. Ainda assim, e porque sou teimosa, e porque gosto realmente muito de cinema francês, esta é a minha tentativa. Desculpo-me então vestindo-me de nietzschiana: "não há a coisa-em-si, há perspectivas", dizia ele. Não há cinema-em-si, há perspectivas. Esta é a minha, muito apaixonada e parcial e do meu "canto" como só assim poderia ser.
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